Diário de uma arquiteta desempregada: currículo e portfólio

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Currículos enviados: 0; horas gastas obsessivamente achando que o currículo não está bom o suficiente: 120.

(Roubei a ideia da Bridget Jones, me processem!)

Depois de passar 2 semanas produzindo o currículo e o portfólio (conforme relatado aqui), fui em busca da vaga perfeita. Já sabia que um dos escritórios para quem eu gostaria de trabalhar recebe currículos o tempo todo, sem necessariamente abrir vagas, então fui direto no website pegar o email para mandar e… eles só recebem cópia física. Pânico, pânico, pânico! O meu material foi produzido especificamente para ser enviado por email e visualizado sem dificuldades, não para ser impresso. Como lidar? Então eu passei mais uma semana compulsivamente pensando em *como* eu enviaria. Imprimir e grampear as folhas simplesmente não dava.

Minha primeira ideia foi usar um trem desses aqui. Ou uma pastinha. Mas isso seria muito simples, não é verdade? Eu tinha que inventar alguma coisa extremamente complicada e, de preferência, algo que eu nunca tivesse feito antes. Que tal encadernar um livro? Porque não basta ser megalomaníaca, tem que jogar a vida no nível hard.

Com ajuda do YouTube eu aprendi (o canal é esse aqui, e é mais fácil do que parece) e em 48 horas eu produzi dois livros, um pra mandar praquele escritório ali de cima e outro pra eu levar nas entrevistas (amém!).

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Incorporei o currículo logo após a página de abertura, para não ficar uma folha solta dentro do envelope. Não sei se vocês chegaram a ver o meu post sobre currículos, mas usei o modelo Chevron – apenas adaptei para o formato paisagem. O modelo também foi inspiração para o tecido da capa, que eu dei muita sorte de achar numa lojinha perto de casa.

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As páginas foram impressas em papel fotográfico perolado gramatura 290 da Ilford (eu tinha uma caixa quase cheia da minhas épocas fotográficas). O portfólio é pequeno, só tem 8 páginas – devido ao tamanho do arquivo, mas acho que cumpre bem o objetivo: mostrar uma gama de habilidades de forma compacta, que não vai tomar muito tempo (nem espaço na caixa de mensagens) de quem recebe. Tem AutoCAD, tem SketchUp, tem desenho a mão livre, tem projeto quase completo, tem croqui, tem arquitetura, tem interiores.

Aproveito pra deixar algumas dicas das coisas que aprendi enquanto fazia o currículo e portfólio, para quem quiser tentar um emprego por essas bandas de cá:

  • É aceitável que o currículo tenha 1 página para cada 10 anos trabalhados, e no máximo 3 páginas, a não ser que você tenha uma boa justificativa.
  • É esperado que o currículo tenha, além da lista de empregos que você teve, o que você fez em cada lugar – no caso de arquitetura, é legal mencionar softwares usados, por exemplo, e em quais etapas do projeto você trabalhou.
  • Buracos no currículo não são bem vistos – alguns meses é ok, mas mais do que isso, é interessante explicar o porquê da pausa: viagens, cursos, licença maternidade. Eu, por exemplo, deixei alguns empregos de fora porque eram irrelevantes para a carreira que eu quero seguir e aumentariam o currículo desnecessariamente (passaria para duas páginas!), então tenho o cuidado de mencionar na carta de apresentação.
  • E por falar em apresentação, se apresente! Eu coloquei um item “perfil” no meu currículo, mas pode ser na carta de apresentação. Diga quem você é, o que você gosta de fazer – profissionalmente, gente! -, o que você espera alcançar no seu próximo emprego.
  • Represente o que você gosta de fazer no seu portfólio. Se você não curte trabalhos comerciais, não faz sentido você colocar esse tipo de projetos no portfólio, a não ser que você não tenha coisa o suficiente para mostrar (ainda).
  • Represente o que você sabe fazer no seu portfólio. Croquis, maquetes, software, desenho técnico, fotografia. Quanto mais variado, mais interessante. Um portfólio só com plantas do CAD ou só imagens do SketchUp pode acabar passando a ideia de que é só isso que você sabe fazer.
  • Atenção ao tamanho: no caso do portfólio impresso, acaba por ser irrelevante, mas no caso eletrônico é muito importante ter cuidado. Algumas vagas especificam o tamanho máximo que eles recebem, mas evite passar de 8-10Mb, porque dificulta pra mandar, dificulta pra receber.
  • Atenção ao formato! Novamente, importante no caso eletrônico. Sempre que possível, use PDF – um arquivo do word com uma fonte não reconhecida no destino vai desconfigurar todo o seu trabalho, vai ter figura voando, título no lugar errado. Usar PDF é uma forma de assegurar que o recipiente vai ver o seu currículo e/ou portfólio exatamente da forma como você idealizou.

E por enquanto é isso, pessoal. Vamos que vamos, tentando não pensar que o meu trabalho de dedicação e amor vai acabar no reciclável do escritório, rs.

Diário de uma arquiteta desempregada: semana 1

diário de uma arquiteta desempregada semana 1

*cri cri cri – bola de feno* Então! Cá estou eu novamente, depois de dois meses. Adoraria dizer que passei esse tempo viajando, fazendo planos mirabolantes ou trabalhando loucamente, mas a verdade é que passei cuidando de filha doente, fazendo tricô, tentando tocar músicas do Ed Sheeran e afundando em autopiedade. Todas as notícias que eu ia postar ficaram velhas, todo mundo já sabe qual é a cor da Pantone para 2015.

Mas estamos aí, ano novo vida nova etc etc. Eis que entre as minhas resoluções está: arrumar um emprego. Ok, essa resolução já está na vida há tempos, mas sempre tenho uma ideia brilhante, que vai dar muito certo, aí eu acabo trabalhando igual uma camela e ganhando uns amendoins (esse blog não está incluído nas minhas ideias brilhantes, veja bem!). E a verdade é que meu escritório é uma consultoria de interiores, o que não é bem o que eu quero fazer para o resto da vida. Quer dizer, é e não é. Não quero passar o resto dos meus dias produtivos somente especificando cor de parede e escolhendo tecido de cortina. Quero quebrar parede, assentar tijolo e tudo o mais *drama drama drama*. Dramas de lado, quero que o meu título seja reconhecido e que todas aquelas noites não dormidas não tenham sido em vão.

Não sei se já falei aqui, mas aqui na Inglaterra meu diploma não vale o papel que tá escrito. Para ser arquiteta, assim, com título, teria que fazer as provas do ARB, voltar pra faculdade ou achar um escritório que me adote e que me auxilie a conseguir as qualificações enquanto eu trabalho. As provas, no momento, estão fora de questão: eu teria que trazer e traduzir tudo que eu estudei na faculdade, vender um rim para pagar a taxa e correr o risco de ser reprovada. A faculdade é um possibilidade, conversei com algumas universidades e todas concordaram que eu poderia começar o curso do segundo ano (o bacharelado em arquitetura tem duração de 3 anos, explicarei como funciona em um post logo, logo), mas preferia não fazer dívidas a essa altura da vida – 9 mil rainhas por ano!

A alternativa óbvia, no caso, é procurar um emprego e implorar pra eles me salvarem do limbo. Passei as duas últimas semanas produzindo um currículo e um portfólio, um trabalho de amor, sangue, suor e clichês. E agora inauguro aqui no blog uma nova seção: diário de uma arquiteta desempregada! Acompanhem comigo as aventuras (!!!) de passar dias mandando currículo para todos os escritórios de arquitetura do país enquanto tenta evitar arrumar um emprego no centro de Londres. Não vai ser todo dia, na verdade não vai ter periodicidade fixa, mas toda vez que eu tiver algo novo para contar eu venho aqui dividir com vocês (você? Oi mãe!). E entre um post e outro do diário, continuarei a escrever os posts normais de arquitetura e interiores.

Torçam por mim, meu povo. Vou precisar de muita torcida.

(Este post não tem fotos. Foi mal.)